
... uma sensação, um certo tesão adolescente, o calor que sentimos no friozinho das cidades cinzas, a delícia do anônimo, o começo do traço, o fechamento do episódio, sou todo jazz! Enquanto Billie Holiday me susurra aos ouvidos, ou me esganiça as entranhas rasgando sua voz com elegância, chego a conclusões infindáveiss, como um bom solo de bateria, sobre o mundo, todo jazz. Sim, antagônico, contraditório, sutil, doce, doloroso, venenoso, traiçoeiro, vermelho, interminável. Concluo que 1 + 1 = ao mundo, e o mundo é mais que 1 + 1. Concluo que existe sim uma divisão de classes, os que gostam de jazz, da música e não do status de gostar dele, e os que ainda não foram abençoados por esta descoberta. Invariavelmente as pessoas mais interessantes que conheço gostam de jazz, mas é verdade que ainda não fiz o teste de ouvir com eles, olhando nos olhos, que é com o que converso melhor. Mesmo o rock, que eu amo , e onde acho sempre pessoas extremamente interessantes, para mim é a vontade de ser jazz, isto quando ele é bom. Quando o rock é libertário, gostoso, forte, suculento, desastroso para os nossos sentimentos ele é um grito de liberdade, ele é o jazz furioso. E os que ainda não descobriram, porquê é impossível não gostar de algo que seja verdadeiro com o bom jazz, estes estão com suas almas perdidas, vagando pelo mundo do pasteurizado, sucumbindo à nação zumbi. O jazz é imortal porquê a alma é indestrutível. Simples assim, como 1 + 1 querem ser todos. E eu, todo jazz, sou assim, triste, eufórico, indisciplinado, delirante, tocável, carente, apaixonado. E todo jazz eu quero ser, e para isto, não cesso de buscar pessoas de verdade, que saibam dialogar numa Jam Session, não ser conduzido - que isto é para pessoas repetitivas - e nem querer conduzir - que isto é para pessoas complexadas. A liberdade de dialogar, com tudo o que é possível, palavras, corpo, imagens, não-fatos, é a vida que pulsa, e é difícil esquecer que podemos ser vivos quando já o fomos algum dia, mesmo que vivamos entre mortos.