sábado, novembro 19, 2005

Dodói

Será que se eu fosse ator, artista-plástico, cineasta ou escritor convenceria? Talvez o encanto aí esteja na verdade da atuação. Na sinceridade em dizer que é tudo um personagem, uma questão, talvez estética, um roteiro bonito ou um romance. Ou será que convence a ilusão, a ilusão de conhecer de verdade, de fato, fatalmente atraído. Me vestir em pele de cordeiro talvez possa me trazer algumas respostas.

Poesia

A vontade de ser é em poesia. A falta de ler me deixa seco. Será que a música influi na qualidade da palavra? Sei que a riqueza é um valor. Mas ás vezes faltam palavras e sobram angústias. Angústia mesmo passou a ser uma palavra que remenda toda a expressão de um sofrimento que corrói por dentro, sem saber de onde vem nem como tratar. Será que existe tratamento? Pelo menos para a riqueza? Quiçá poesia.

ponto 3

Sei que devorei o seu plano. você também tem devorado minha vida. Não sei se é bom que seja tão bom chef. Ainda bem que não me sinto obrigado a obedecer. Cada pedacinho é lugar-comum. Cada janelinha no infinito da cidade que chora seus pecados é uma chance de superar você, irritantemente insuperável. E enquanto os carros passam com faróis que cegam eu me transporto ao mundo onírico, mistura de você com nós dois mais os meus desejos.

Milhares, milhões de gotas caem por segundo. Uma sinfonia suicida. A névoa enegrece a dor. Tua língua sara minhas feridas. Nosso sexo redime o nosso amor. Se eu pudesse o tombo seria bem menor, talvez 1/4 do seu tamanho. Um quarto/sala no centro. Um pouco melhor que um motel.

Se já muito feliz. O amor está plantado e agora só resta colher. Não se importe se com lágrimas ou desejos.

Ponto 2

Se a distância fosse menos eu seria mais seu. Brigando noites em claro, minguando, lacrimejando, nem assim as montanhas se movem. Que diabos a distância quer me ensinar? Se houvesse mais desejo na querência o susto seria nacional. É melhor viver, mentir para não contrariar. Chega de torturas. Não nasci num tempo tão chato para ainda ter de ser torturado.

1 ponto

Hoje vamos conversar sério Pepa? Sem sermos críticos ácidos um do outro? Mas tem que haver sinceridade, sem achar que isso é piegas ou riponga demais. Sabe, é que você é uma pessoa que me tolera, me aguenta há mais de 8 anos... e eu preciso ter diálogos inteligentes com pessoas que queriam me escutar. Na verdade, quero compartilhar os meus medos, sei que não te assusto com isso, mas gostaria de pedir que nos levássemos a sério hoje.

Ando com muito medo de ser uma pessoa medíocre. Tenho medo de não fazer nada de interessante, de ser infeliz, ser cada vez mais chato, tedioso e não conseguir ganhar dinheiro. Estou mesmo com muito medo disso, e cada vez que vejo alguém que me parece estar feliz, fazendo o que gosta, ganhando dinheiro, produzindo alguma obra interessante, eu me carrego mais de tristeza.

Isso vem me deixando cada vez mais desesperado, perdendo as referências, a forma bondosa de ser, a singularidade de enxergar o mundo e a veracidade do olhar. Tenho medo de me perder entre o caminho da infância/adolescência (onde eu era o que os outros queriam) e a descoberta de quem eu quero ser, de quem serei.

Tenho medo de me perder. Tenho medo de perder os bons amigos, de perder a prática de fazer amigos, de perder a chance de me aproximar das boas pessoas. Tenho medo até de você me abandonar...

Tenho medo dos meus sonhos... coisa que nunca tive. Sonhar e nunca realizar. Ir ficando angustiado, desamparado, amargo e sem vontade de viver. Tenho medo de que meus sonhos sejam infantis, bobos. Sofro no abismo cercado pela angústia de não realizá-los e o medo de que por eles eu seja ridicularizado.

Eu tenho medo. E o meu medo está em mim. Eu preciso que alguém me sirva de incentivo, de apoio. Preciso somar, mas não sei se ando merecendo isso. Talvez tenha que deixar um pouco da acidez de lado, talvez um pouco da ilusão. Talvez eu esteja completamente errado.

Talvez você possa me ajudar.